Reflexão Ideológica

22 janeiro 2009

Bate-papo com namorados e noivos (2)


Moçada, outro dia ouvi Rubem Alves citando Nietzsche: "Quando formos casar com alguém devemos fazer a seguinte pergunta: 'Terei prazer em conversar com essa pessoa até o fim dos meus dias?"

Pois é, esse é um simples mas fundamental segredo para um casamento que edifica vidas. Vocês sabem como fazer isso, pois ao longo do tempo descobrimos que a beleza do namoro não reside no beijo, reside na conversa, até porque pouca coisa é mais horrível do que namorar com alguém cuja conversa não agrada... o beijar também passa a não agradar.

No namoro se conversa. Nas amizades se conversa. Na comunhão se conversa. Na infância se conversa muito, até mesmo quando ainda não se sabe falar. No casamento só há casamento se houver conversa e conversa de intimidade, de profundidade, mas também de superficialidades.

É comum ouvir cônjuges reclamando que já não se conversam mais, ou seja, já estão sepultando seu casamento e preferindo a conversa com amigos.

Passei por aqui para lembrar isso ao teu coração: você quer passar o resto de sua vida conversando com essa pessoa com quem sonha casar?

Lembra quando Deus vinha ao final da tarde conversar com Adão e Eva? Pois é, um dia eles não quiseram conversar. Tinham perdido o casamento, digo, a comunhão, e foram expulsos do jardim, até queDeus restabeleceu a conversa em Cristo.

Estou convidando vocês a cultivarem a conversa. Talvez a aprenderem tomar tereré juntos ao final da tarde, para o resto de suas vidas, pois, podem ter certeza, nessas conversas Deus vem, e ministra vida... e vida em abundância.

LULA E OBAMA... UM OLHAR!*


Algumas coisas o tempo vai adicionando em nossa vida: conviver com as frustrações e encantar-se com o belo mesmo quando não concordado. Pois é, sou um dos frustrados com o Lula enquanto presidente, mas a posse do Obama (outro que certamente frustrará a muitos) me fez retomar um olhar sobre o mundo atual.

Os que olham o mundo teologicamente - e muitos só sabem olhar assim - o vêem como caído, mas, como já passei dos quarenta, me permito ver que Deus continua cuidando desse espaço que o reflete, plantando sinais de justiça aqui e acolá, como o artista que saiu jogando sementes de flores no caminho que passava.

O presidente Lula é uma coisa, mas o Lula presidente é outra totalmente diferente. Ele foi gestado não na academia elitista de nosso tempo, não no jogo de interesses de poderosos que se organizam em federações e passam décadas avaliando a situação brasileira. Não, ele foi gestado nas pequenas reuniões dos sindicatos, das comunidades eclesiais de base, nas utopias de alguns intelectuais, nas reuniões de bispos que olham a religião mais do que como instituição, no grito de padres críticos e criticáveis. Ele era o que não teve a oportunidade de estudar, o que não teve a oportunidade de tomar leite e papinha comprada na farmácia quando bebê, o que não usou fralda descartável, como aliás, foi a grande maioria do povo brasileiro.

Assim, o Lula nasceu onde poderia ser tudo, menos presidente. Aí a semente de justiça, usando a figura do Saint Exupéry, acordou, espreguiçou-se, colocou seu galhos para fora e gritou: estou aqui.

Quando Obama nasceu, em agosto de 1961, os Estados Unidos eram a maior expressão "civilizada" de uma atitude incivilizada que era o racismo. Atitude essa muitas vezes alimentada por aqueles que tinham um olhar teológico para o mundo. Martin L. King gritava em favor da justiça, e gritava também com um olhar teológico, certamente, em nome de Deus, pois se tem algo que Ele gosta é de ver um atributo seu sendo celebrado entre suas criaturas. Obama nasceu negro, misturado, carregando um sobrenome que viria a ser simbolo de desconfiança (Hussein), e começa ministrar como líder comunitário e advogar por causas civis.

Aí a semente plantada por Deus através de Martin L King, morto em abril de 1968, também acordou e colocou seus galhos para fora e gritou: estou aqui.

Obama, como Lula, certamente fará muita coisa boa (já mandou fechar o centro de tortura de Guantânamo), mas não será completo, pois se deixará usar por grupos de poderes, por ideologias discordáveis, entretanto, não posso deixar de ver o belo no surgimento desses dois líderes. O mundo não é só dos poucos que manipulam os poderes, que se acastelam em seus guetos brilhosos. O mundo é também dos muitos que pouco têm e que são preteridos pelos olhares dos que podem.

Que passem os presidentes Lula e Obama, mas que fiquem as árvores de justiça, sinalizadora de oportunidades aos da maioria.
*Não sei de quem é a montagem da foto, mas a retirei do site www.atualizaçoesjuridicas.blogspot.com

15 janeiro 2009

Bate-Papo com Namorados e Noivos

É sempre bom ver pessoas vivendo o período bonito de um namoro mais sólido, que caminha para um noivado e, principalmente, aqueles que já vivem o período do noivado. Assim, continuamos celebrando a proposta de família estabelecida pelo Criador.
Hoje gostaria de lembrar um desafio enorme que vocês têm pela frente: a individualidade a ser vivida na homogeneidade que deve ser o casamento.
A tendência natural da quase totalidade dos seres humanos é sair de alguém (mãe) em busca de alguém (o ser amado). Porém, nesse intermédio de tempo, gastará grande quantidade de energia psiquica em busca da tão cantada liberdade. A teologia, a filosofia, a psicologia e tantas outras "ias" da vida gastam volumes e mais volumes para discutir o que é liberdade. Não será nosso caso aqui, contudo, não podemos afirmar que na construção de um espaço de dois haverá total liberdade.
Como somos originados em alguém, desejamos pertencer a alguém. Essa noção de pertencimento parece ser exatamente o contrário do que propala as disciplinas seculares, contudo, pouco há de mais saudável ao coração humano do que a certeza de que há alguém esperando com amor para ser partilhado em todos os instantes da vida.
É esse o paradoxo a ser experienciado na construção do espaço comum que é o casamento: ser indivíduo e criar uma realidade com outro indivíduo. É ser um e ser dois ao mesmo tempo. Precisamos ter consciência disso e, então, tomar decisões que facilitem o processo.
Sempre almejamos liberdade, mas também desejamos ser de alguem. Portanto, antes de casar precisamos ter claro o que nos é individualmente imprenscindível e discutir isso com nosso parceiro ou parceira. O modo como o outro reage a isso hoje é um bom sinalizador do que viveremos amanhã (apesar de lembrarmos que somos seres em movimento e não estáticos), contudo, há valores que já nos são claros desde agora.
Por isso, gostaria de propor-lhe algo: você já sabe o que para seu namorado ou namorada, noivo ou noiva é imprescindível, são valores de muita valia, são características que lhe marcam o ser? Ele ou ela já sabe quais são os teus? Se ele ou ela não mudar substancialmente nisso, buscando essa individualidade conscientemente ou não, você se sentirá vivendo a tua individualidade com alegria e disposição?
Se permita a um pouco de dúvida. Nem sempre a certeza é nossa melhor companheira. É essa dúvida que te levará a conversar mais, questionar e questionar-se mais e assim chegar a melhores conclusões para o crescimento do seu relacionamento.
Paz!

11 janeiro 2009

Usinas de Rondônia: para quem gosta de riqueza.

Não sou dos mais entusiasmados com os números que a construção das usinas trará para Rondônia, em todo caso, para que aqueles que são, segue um resumo publicado pela Revista IstoÉ Dinheiro, número 587, quanto à Usina de Santo Antonio e de Jirau em Porto Velho.
- A vazão do Rio Madeira é 47 mil metros cúbicos por segundo, o dobro do volume do Rio Paraná, onde foi construída a Usina de Itaipu.
- A Usina de Santo Antonio custará 12, 2 bilhões. Para iniciar a obra já foram removidos 20 milhões de metros cúbicos de rocha e 32 milhões de metros cúbicos de terra.
- A Usina de Santo Antonio consumirá 126 mil toneladas de aço.
- O paredão precisará de 2,7 milhões de metros cúbicos de concreto (o suficiente para construir 32 estádios do Maracanã, o maior do mundo).
- Concluída, a megausina terá 44 turbinas de geração de energia - 73,5 megawatts-hora. Quatro delas são suficientes para abastecer Rondônia e Acre por mais de uma década.
- Fora isso, a Usina de Jirau aguarda licenças definitivas para ser construída 100 km depois no mesmo rio.
A seguir, alguns números quanto à Porto Velho:
- Mais de 100 edifícios estão em construção ou aguardam autorização da prefeitura.
- Prédios antes abandonados estão sendo transformados em concessionárias de carros, galerias comerciais, lanchonetes, restaurantes, hotéis.
- O novo shopping reúne 150 lojas, emprega mais de 2.ooo pessoas e foi construído por investidores canadenses e custou R$ 80 milhões.
- Espera-se 20 mil novos moradores nos próximos 3 anos.
- Apenas 2% das residências têm esgoto encanado. A meta é garantir 100% de coleta e água tratada até 2014.
- Só a Usina de Santo Antonio gerará 600 milhões em Impostos durante a construção e desembolsará pouco mais de 1 bilhão em iniciativas socioambientais (dentre estas 4 escolas em Porto Velho e uma em Jaci Paraná e nove policlínicas na capital.
- Alstom-Bardella e Votorantim construirão fábricas em Porto Velho para atender à demanda das hidrelétricas. A Rede Makro vai abrir uma superloja (já abriu). O Carrefour procura terreno para a construção de um mega centro de distribuição, que atenderá toda a região Norte.
- A arrecadação de impostos hoje em 360 milhões ao ano, crescerá cinco vezes assim que a primeira usina, a de Santo Antonio, entrar em operação.

A reportagem da Revista IstoÉ Dinheiro é muito bem feita e esta edição, em especial, traz uma série sobre os megainvestimentos que estão e estarão sendo feitos no Brasil nos próximos anos.
No caso de Porto Velho, tomara que o Hospital de Base continue o processo de evolução, um Pronto Socorro municipal decente seja construído, a maternidade seja ampliada, e o Estado consiga construir um grande hospital no centro do Estado (já que o de Cacoal nunca termina) e tantas outras necessidades que nos marcam: melhores escolas, educação ambiental e de trânsito... meu Deus... são tantas as necessidades que parecem estarmos muito longe do mínimo.

Devocional: ouví de Deus (1)

Ouvi de Deus algo que tocou meu coração essa semana. Um dia Ele para alguns sábios do Oriente através de uma estrela. E eles entenderam a mensagem de Deus. O pouco que sabemos deles é que conheciam os textos judeus da época do exílio na Babilônia. Mas o que conheciam foi o suficiente para darem crédito ao sinal que Deus escreveu no céu.
Essa história de sinais de Deus é sempre muito estranho para mim. Sou daqueles que crêem na Palavra escrita como sendo suficiente para tudo aquilo que preciso.
O problema é que muitas vezes não percebo os sinais que Deus escreveu nem em sua Palavra. Além disso, não sei se Deus fala apenas na Palavra escrita. Creio que há outros sinais que utiliza-se para falar comigo: aspectos da natureza, aspectos do cotidiano, pessoas, hinos... enfim, Deus é um ser que se relaciona, comunica, contata, portanto, imagino que faça isso de várias formas.
Não sei se seguiria a estrela. Não sei se sigo os sinais hoje. Portanto, talvez esteja perdendo grandes encontros de Deus para meu coração, como foi o encontro daqueles sábios com o Verbo encarnado.
Pai, dá-me sensibilidade para te perceber, te ouvir, te experimentar nas várias formas que o Senhor se mostra todos os dias.
Aluizio.

09 janeiro 2009

HERMENÊUTICA E ACONSELHAMENTO

ALGUMAS IMPLICAÇÕES DA HERMENÊUTICA NO PROCESSO DE ACONSELHAMENTO

Hermenêutica é uma disciplina presente em todos os campos da existência humana e, portanto, não poderia ser diferente no que se refere ao processo de aconselhamento. Há, porém, um fator de fundamental importância nisso: “o para que” e o “para quem” do processo.
Se percebermos a hermenêutica como uma forma de trazer à compreensão algo que estava incompreendido, precisamos, então, observar quem são os atores e quais os seus papéis no processo de aconselhamento e o que se deseja alcançar como objetivo.
A fonte da mensagem proferida será sempre o(s) aconselhando(s) ou aconselhanda(s). O alvo, num primeiro momento, é o conselheiro ou conselheira, contudo, o processo termina na própria fonte, pois o seu para quem é ela e o para que é o seu crescimento.
Nesse sentido, o conteúdo dito pela fonte precisará ser esclarecido para que ela própria perceba o conteúdo que está explícito ou implícito em sua fala e novas conclusões sejam alcançadas.
Dizer o que está experimentando, incluindo aí todas as nuances conscientes e ou inconscientes, é a mensagem e ao mesmo tempo a primeira parte do processo hermenêutico que a própria fonte começa estabelecer e necessariamente precisará fazê-lo.
Explicar o que está dizendo não será exercício apenas do ouvinte ou da ouvinte, mas principalmente um exercício da fonte para si mesmo, pois esse passo conduzirá, com a clarificação ou só com a presença silenciosa do ouvinte ou da ouvinte, ao terceiro passo que é a tradução daquilo que foi dito, pois agora as palavras podem ser “ouvidas” de novo, já que foram expressas.
Quando o conselheiro ou conselheira assume uma função hermenêutica e devolve o processo dizendo e explicando o que se traduziu um enorme risco se estabelece. Todo o conteúdo expresso já pode vir limitado por todas as repressões e auto proteções naturais de quem o expressou, além disso, o conselheiro ou conselheira corre o risco de compreender a mensagem de acordo com sua história, tradução ou conveniência pessoal.
Obviamente que, tecnicamente, o conselheiro ou conselheira também estará desenvolvendo um processo hermenêutico, pois aquelas palavras reverberam em sua própria pessoa, porém, o alvo não está em si e sim no aconselhando ou aconselhanda. Quando isso ocorre, as conclusões chegadas podem ter muita significância, significância, alguma significância ou absolutamente nenhuma significância.
Quando se entende o papel do conselheiro ou conselheira como facilitador ou facilitadora de uma melhor auto percepção e auto compreensão do aconselhando ou aconselhanda, uma parte do diálogo, e não como Hermes, como aquele ou aquela que traz a explicação, o aconselhamento ganha um sentido mais dialogal do que responsivo, mais de troca do que de venda ou doação de uma compreensão.
Em Aconselhamento, então, a hermenêutica acontece nos dois lados dos envolvidos, entretanto, o alvo é o aconselhando ou aconselhanda e não o conselheiro ou conselheira.
O “para que”, então, não está preso ao interesse do hermeneuta-ouvinte e sim do hermeneuta-falante. O primeiro funciona apenas como espelho do segundo, que lhe permite interpretar ou que foi dito, explicado e traduzido a si mesmo ou si mesma, com o propósito de gerar em si uma melhor compreensão de sua própria vivência e experienciar o que foi trazido ao ambiente de aconselhamento.
O conteúdo recebido pelo ouvinte também poderá servir para uma outra reflexão que se abre a partir daí: o conteúdo explicitado pela fonte original pode mexer com os próprios conteúdos do conselheiro ou conselheira e gerar auto falas, auto explicações e auto compreensões que mexem com sua própria existência, mas que não podem, nem de longe, serem trazidas para aquele espaço, pois o alvo não é a fonte.
Desse modo, hermenêutica existe como disciplina no processo de aconselhamento, contudo, assume contornos que precisam ser entendidos de modo muito próprio para aquela situação e para aquele ambiente.