Reflexão Ideológica

03 julho 2008

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO ATUAIS


Há poucos dias tive a oportunidade marcante de visitar o Campo de Concentração de Dachau, nos arredores de Munique, Alemanha. Como não poderia ser diferente, foi uma oportunidade dessas que nos faz encontrar com nossos próprios limites existenciais. Nesse caso, o limite do ser humano que é capaz de sofrer intensamente e está dentro de nós, e o limite daquele que é capaz de fazer sofrer intensamente e também está dentro de nós.


Esse foi o primeiro campo de concentração e se tornou uma espécie de modelo de crueldade para os demais. Ali pude ver a câmara de gas e na sequência os fornos onde eram queimados os corpos. Pude ver os alojamentos, pátios, instrumentos de torturas, muitas fotos e ler narrativas daqueles que sobreviveram. Mas uma frase que era utilizada no regimento disciplinar e penal me chamou muito a atenção: " Ser tolerante significa ser débil...".


É isso aí. Nos totalitarismos ideológicos, sejam eles de quais cepas forem, a intolerância é a marca que os caracteriza. Eles criam unidade a partir da imposição de seus valores de maneira que não toleram as idéias de quem pensa diferente.


É importante refletirmos que as idéias de Hitler nasceram dentro de um contexto propício e que aparentemente ofereciam esperança de dias melhores para uma Alemanha destruída pela Primeira Guerra Mundial e oprimida pelas cobranças que lhe eram feitas. Não nasceram com cara de morte. Nasceram com cara de vida, de esperança, de renovação.


Outro fator importante é que a intolerância começou com os discordantes de dentro da Alemanha, dos oposicionistas partidários e mesmo religiosos que não se submeteram ao seu modo "correto" e "libertador" de pensar e agir.


Os ditadores e suas idéias intolerantes trazem embutidas em seus discursos rígidos e bem delimitados suas fraquezas psicológicas. Quanto maior o grito, maior a fragilidade. Por isso eles sentem necessidade de se imporem sobre os outros, se auto afirmarem em suas convicções e fazerem de sua intolerância sua marca registrada.


Creio que temos dois desafios constantes em nossa vivência social: Primeiro, não nos tornarmos tão escravos de uma idéia a ponto de impedirmos o desenvolvimento de vida daqueles que pensam diferente de nós; Segundo, não sermos ingênuos quanto às propostas puristas e libertadoras daqueles que fazem de suas convicções cânon de tudo que deve ser praticado pelos demais.


Pequenas ditaduras são gestadas todos os dias na macro sociedade ou nas micro sociedades em que vivemos. Campos de Concentração para manter os discordantes também são construídos com silhuetas arquitetônicas das mais diversas possíveis. Padrões de exclusão e regimes disciplinarios e penais para enquadrarem o diferente em algum tipo de punição estão nesse instante sendo renovados e ou disseminados no meio em que vivemos.


A questão maior é em que lado queremos estar: entre os intolerantes ou entre os intolerados. Se achamos que "ser tolerante significa ser débil..." já nos definimos entre aqueles que rogam fogo do céu sobre os outros e aí... que Deus tenha misericórdia.