Reflexão Ideológica

14 fevereiro 2008

O mundo secularizado tomando consciência de sua falência

O mundo secular pregou em alto e bom som a partir da década de 60 que tudo pode e é proibido proibir. Derrubou os limites e agora colhe os resultados de seu liberalismo inconsequente. A seguir partilho, mesmo sem concordar com tudo, um artigo da excelente redatora chefe da revista Época Ruth de Aquino (vale a pena ler os artigos dela no site da revista).

" Meninas dançando o Créu e garotos fantasiados de Bope são uma expressão lamentável do Carnaval de 2008. É difícil suportar a visão de meninas mexendo o bumbum e a virilha na coreografia erotizada do créu. Ou os meninos com colete à prova de balas, exibindo nas costas uma caveira cruzada com uma faca e dois revólveres, símbolo do Batalhão de Operações Policiais Especiais, com a inscrição Trupe de Elite (em vez de Tropa). Pior de tudo são os pais que aceitam ou estimulam um comportamento avesso à infância ou ao Carnaval em sua versão mais inocente.
A fantasia completa do Bope custa R$ 50, o dobro do palhaço, pirata ou super-herói, e é vendida em tamanhos para crianças de 2 a 14 anos. Há desenhos de cartuchos de bala e uma granada. Inclui boina. O lugar para colocar armas vem costurado. O uniforme estava esgotado numa loja no Rio de Janeiro. Havia fila de espera. Várias mães deixavam a fantasia paga para quando chegasse uma nova leva. Cópias toscas e baratinhas, só com boina e colete, foram improvisadas no comércio popular.
Super-heróis exterminadores sempre atraíram os meninos. Só que este, do Bope, é real. Ele sobe o morro e se envolve na guerra do tráfico. A cidade do Rio de Janeiro é campeã brasileira em assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos, segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. Foram 879 jovens mortos em 2006. Eu me pergunto o que se passa na cabeça de pais que compram fantasia do Bope para os filhos.
Serão os mesmos que acham engraçadinho quando a filha imita os gestos e o rebolado do Mr. Créu? Virilha jogada para a frente, bunda jogada para trás, coxas abertas. “Crééééu! Crééééu! Vamu que vamu. Não é mole não. São cinco velocidades. Tem que ter disposição.”
O país que se queixa de ser visto como destino favorito de turismo sexual e prostituição infantil inventa a cada ano fenômenos “coreográficos”. Dança do tchan, ou da garrafa. Os vídeos do créu foram vistos quase 20 milhões de vezes no YouTube. Uma besteira inominável.
No mundo dos adultos, vê quem quer, mexe a bunda quem se garante, é um contorcionismo que deixa as creuzetes exauridas. Na velocidade máxima, as calipígias parecem tremelicar com choques elétricos. As creuzetes não exibem nem sombra da graça divina de nossas passistas. A multidão nos shows fica histérica como nos transes religiosos. Mais esquisitos são, no YouTube, os vídeos domésticos com garotas lindinhas, no jardim ou na escola, dançando o créu. Ou então, o vídeo filmado por uma adolescente, sob o título: “essa aí é a louca da minha mãe” ...em pleno créu.
O Carnaval foi estudado por um grande pensador e lingüista do século XX, o marxista russo Mikhail Bakhtin (1895-1975). Ele dizia que, no Carnaval da Idade Média, “o mundo parecia ficar de cabeça para baixo”. A vida se tornava pagã e libertina. Ao Brasil, o Carnaval chegou ao século XVII, com o nome de entrudo, trazido pelos portugueses. Ninguém é obrigado a saber nada disso, mas pais e mães deveriam saber o mínimo: como passar adiante valores do bem. O que fazer com mães e pais que jogam lixo na praia, furam fila, ultrapassam no acostamento, subornam policiais, xingam na rua e dirigem alcoolizados? Tudo na frente dos filhos. O que fazer com essas mães e esses pais? Créu nelas, Bope neles."
Ruth de Aquino.

Por isso Salomão disse: "Ensina a criança no caminho em que deve andar e quando for velho não se desviará dele". Imagina o que será a próxima geração se continuar sendo ensinada dessa forma.