Reflexão Ideológica

10 setembro 2008

O GRITO É A MAIS FORTE ARMA DOS FRACOS


É conhecida a frase que diz: cachorro que ladra não morde. Esse é um desses bons exemplos de quando a sabedoria popular transmite um conhecimento empírico através de um provérbio.
A relação de poder é parte natural do processo de educação familiar, escolar, religioso, político, acadêmico... enfim, perpassa todos os níveis em que há convivência. É natural, portanto, que se estabeleçam padrões definidores de quem se impõe, quem vence, quem determina e a história é eivada de exemplos desse fato.
Na educação familiar inicia-se o processo. Os casais, ao saírem de suas casas, precisam estabelecer uma espécie de reino particular, com formas de funcionamento claras, e um tende a ceder mais para que o ou a autoridade da casa se estabeleça. A medida que o tempo passa, o caos inicial se transforma em uni-verso (perdão pelo trocadilho) e, então, forma-se o “reino”.
Após um tempo, essa ordem criada pelo casal é quebrada com a chegada de um novo ser, uma nova pessoa, uma nova individualidade. Para que não se estabeleça um novo caos é preciso que regras e padrões sejam criados. Então, os pais sentem-se programados para vencer. Eles têm de determinar qual o padrão que desejam para manterem a ordem desse universo particular que é o seu próprio lar.
Até aí não há nada de mal. Gostemos ou não a realidade caminha dessa forma, com a diferença de que o grau de “democracia” diferencia-se em cada cultura e família. O problema básico é a forma como isso acontece.
A educação é a base em que se cria esse padrão, contudo, alguns pais confundem-na com condicionamento. Imagina-se que se derem um grito, um tapa ou colocarem a criança de castigo cada vez que ela faz algo diferente do “padrão” estabelecido (pelo patrão ou patroa) estará educando a criança. Não, isso não é educação. Isso o rato de laboratório de um amigo meu também aprendia. Ele tomava uma canetada na cabeça cada vez que não praticava o exercício esperado. Poucas vezes depois já começava a praticar assim que era aberta a porta da caixa de vidro do experimento.
Ninguém nega que o princípio de autoridade é necessário no processo de educação de uma família. Esse princípio não só é necessário como também é saudável. Contudo, a autoridade deve ser instituída não pela força ou pelo grito, mas pela sabedoria e coerência nas orientações. Quando isso acontece, a criança incorpora em seu modo de crer um modo de ser e, assim, acontece educação.
Sendo desse modo, todas as vezes que não se consegue educar, o grito se faz necessário e a autoridade é demonstrada como deficiente. Talvez esse seja um princípio apresentado na figura bíblica em que Jesus não grita com os demônios para que eles saiam, pois tem autoridade. Não grita para que a tempestade cesse, pois tem autoridade. Não grita com a água para que se transforme em vinho, pois tem autoridade.
Gritar, portanto, é a arma mais forte dos fracos. É o cão vira-lata tentando se impor sobre um espaço que acredita ser seu, mas que não consegue pois é mais frágil que o invasor.
Nós, pais, professores e professoras, pastores e pastoras, líderes em geral, precisamos avaliar a cada instante se nosso padrão de autoridade tem se estabelecido como aqueles e aquelas que influenciam modos de ser ou se somos determinadores de modos de fazer.
O grito é capaz de estabelecer modo de fazer (condicionamento). O amor e a capacidade de servir estabelecem modo de ser (educação).