Reflexão Ideológica

16 setembro 2006

PÉROLAS

Vivemos um tempo de tanta aridez, de tanta indiferença ao verdadeiro, e de tanto conformismo, que ler um discurso desses nos faz perguntar quem o entende e ainda o valoriza.
Os porcos nunca entendem o valor das pérolas, os humanos sim.
Pronunciamento do Sen. Jefferson Peres em 30.08.2006 no plenário do Senado Federal.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de uma longa ausência de algumas semanas, volto a esta Tribuna para manifestar o meu desalento com a vida pública deste País. Gostaria de estar aqui discutindo, a respeito das riquezas naturais do Brasil, e não como falarei, sobre algo muito pior: a dilapidação do capital ético deste País. Senador José Jorge, poderíamos não ter um barril de petróleo nem um metro cúbico de gás, mas poderíamos ser uma das potências mundiais em termos de desenvolvimento. O Japão não tem nada. Não tem petróleo, gás ou riquezas minerais. A Coréia do Sul também não tem nada disso, e nos dá um banho em termos de desenvolvimento não apenas econômico, mas também humano. O que está faltando mesmo a este País e sempre faltou é uma elite dirigente com compromisso com a coisa pública, capaz de fazer neste País o que precisaria ser feito: investimento em capital humano. Vejam que País é este. Estamos aqui com seis Senadores em pleno mês de agosto, porque estamos em recesso branco. Por que não se reduz a campanha eleitoral a trinta dias e transfere-se o recesso de julho para setembro? Nós ficaríamos com o Congresso aberto, de Casa cheia, até 31 de agosto. Faríamos trinta dias de campanha em recesso oficial, remunerado. Estamos aqui no faz-de-conta. Como disse o Ministro Marco Aurélio, este é o País do faz-de-conta. Estamos fingindo que fazemos uma sessão do Senado, estamos em casa sem trabalhar. Estou em Manaus há quase um mês, recebendo, sem fazer nada " para o Congresso Nacional, pelo menos. *Como se ter animação em um País como este com um Presidente que, até poucos meses atrás, era sabidamente " como o é " um Presidente conivente com um dos piores escândalos de corrupção que já aconteceu neste País e este Presidente está marchando para ser eleito, talvez, em primeiro turno? É desinformação da população? Não, não é. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar deste País, todos concordarão, ou a grande maioria, que o Presidente sabia de tudo. Então, votam nele sabendo que ele sabia. A crise ética não é só da classe política, não. Parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, mas inconformado. Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração pública, solene, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância.* Isso vem até da classe dos intelectuais, dos artistas. Que episódio deplorável aquele que aconteceu no Rio de Janeiro semana passada! Artistas, numa manifestação de solidariedade ao Presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas! Um compositor dizer que "política é isso mesmo, fez o que deveria fazer", o outro dizer que "política é meter a mão na 'm...'"! Um artista, em qualquer país do mundo, é a consciência crítica de uma nação. Aqui é essa, é isso que é a classe artística brasileira, pelo menos uma grande parte dela, é o povo conivente com isso. E pior, pior ainda: os artistas estão fazendo isso em interesse próprio, porque recebem de empresas públicas contratos milionários - isso é a putrefação moral deste País - , e o povo vai reconduzir o Presidente porque "política é isso mesmo". Tenho quatro anos de Senado. Não me candidatarei em 2010, não quero mais viver a vida pública. Vou cumprir o mandato que o povo do Amazonas me deu, não vou silenciar. Ele pode ser eleito com 99,9%. Eu estarei aí na tribuna dizendo que ele deveria ter sido mesmo *destituído*. O que ele fez é muito grave. É muito grave. Curvo-me à vontade popular, mas não sem o sentimento de profunda indignação. A classe política já nem se fala, essa já apodreceu há muito tempo mesmo. Este Congresso que está aqui, desculpem-me a franqueza, é o pior de que já participei. É a pior legislatura da qual já participei. Nunca vi um Congresso tão medíocre. Claro, com uma minoria ilustre, respeitável, a quem cumprimento. Mas uma maioria, infelizmente, tão medíocre, com nível intelectual e moral tão baixo, eu nunca vi. O que se pode esperar disso aí? Não sei. *Eu não vou mais perder o meu tempo. Vou continuar protestando sempre, cumprindo o meu dever. Não teria justificativa dizer que não vou fazer mais nada. Vou cumprir rigorosamente o meu dever neste Senado até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar, não! *Um País que tem um Congresso desse, que tem uma classe política dessa, que tem um povo... dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte da população que compactua com isso? É lamentável. E que sabe. Não é por desinformação, não. E que não é só o povão, não. É parte da elite, inclusive intelectual. Compactuam com isso é porque são iguais, se não piores*. Vou continuar nessa vida pública? Para quê, para mim, chega! Vou continuar pelejando pelos jornais e por todos os meios possíveis, mas, como ator na vida política e na vida pública deste País, depois de 2010, não quero mais! *Elejam quem vocês quiserem! Podem chamar até o Fernandinho Beira-Mar e fazê-lo Presidente da República - ele não vai com o meu voto, mas, se quiserem, façam-no. O meu desalento é profundo. Deixo isso registrado nos Anais do Senado Federal. Infelizmente, eu gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas falo o que penso, perdendo ou não votos " pouco me importa". Aliás, eu não quero mais votos mesmo, pois estou encerrando a minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado com ela. Muito obrigado, Sr. Presidente.

11 setembro 2006

Vendo além do visível


Tive o privilégio de participar de um dos mais importantes eventos em minha vida: o Quinto Congresso da Conferência Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas.
O evento em si era grande, pois tinha mais de mil e quinhentos participantes, 45 etnias representadas, agências missionárias as mais diversas e missionários da JOCUM, SIL e MEU trabalhando de forma exemplar para receber todo mundo.
Contudo, o mais importante estava além dos olhos. Sei que não tenho sensibilidade espiritual para perceber tudo, mas já louvo ao Senhor pelo que Ele, por sua bondosa e soberana vontade me permitiu a honra de ver, especialmente naquele instante em que tomamos a Ceia do Senhor com tapioca e açaí.
O evangelho gracioso de Jesus foi revelado aos indígenas brasileiros, tocou corações, transformou vidas, tem mudado aspectos culturais danosos e destrutivos (como suicídio, violências, medos, ódios), trouxe esperança, reorganização, aumento de auto estima, tratamento para as doenças que outros brancos lhes levaram... enfim, Cristo é realidade nas vidas deles e agora tomamos a Ceia juntos numa antecipação daquilo que acontecerá no céu.
Isso é muito maior do que nossos olhos humanos podem ver. Só é possível com a mente de Cristo em nós encravada, nos ajudando discernir espiritualmente aquilo que só o espírito transformado pode perceber. Por isso louvo, choro, agradeço... e por isso já sonho com o próximo congresso na cidade de Manaus.
Oro ao Senhor para que abençoe a igreja indígena, de tal maneira que se livre de nossos cacoetes eclesiásticos, que se torne evangelizadora de suas etnias e para que nos perdoem todos os dias pelos absurdos que neles cometemos, não só como brancos, mas também como movimento missionário.

04 setembro 2006

Um Estado na Contramão

É muito estranho quando vivemos num lugar, amamos, torcemos, participamos e o vemos caminhando na contra mão da história. Rondônia, muitas vezes, é assim.
A Cachoeira do Teotônio (enquanto a temos) é um lugar lindo, mas tem se tornado lugar de morte. Na época da piracema pessoas e peixes morrem mais do que é necessário. Não há fiscalização, não há orientação, não há nada por parte do Estado.
Peixes estão sendo destruídos de forma indiscriminada, excesso de redes, excesso de pescas e excesso de desperdício, pois muitos são jogados fora e alí se decompõem.
No mundo inteiro isso é antiquado. Aqui é normal.
Aqui, deputados têm possibilidades de serem reeleitos presos. É o cúmulo do absurdo. Aqui é normal.
Em todos os lugares os governantes são ponderados e têm bom senso para saberem que eles são os moderadores dos processos, inclusive quanto às manifestações contrárias ao seu governo. Aqui o governador afronta o bispo de uma diocese como se fosse um garoto zangado na escola.
No mundo inteiro as queimadas são consideradas atrasadas e destruidoras. Aqui a fumaça toma conta das vidas das pessoas e a destruição da floresta é tida pelos governantes como preparo para o desenvolvimento.
Que a escuridão não nos cegue de vez.