Reflexão Ideológica

15 maio 2007

Carta a um Locutor de Rádio

Senhor locutor, sou daqueles que saem do trabalho e ansiosos ligam o rádio para ouvir os programas jornalísticos do horário, inclusive o seu. Sou admirador de seus comentários iniciais e de algumas de suas entrevistas. Portanto, receba essa carta como a de um admirador e não como de um crítico, por favor.
Há alguns dias o ouvi usar uma frase que dizia mais ou menos o seguinte: está na hora de parar com essa idiotice de barrar o desenvolvimento por causa de bagre. Confesso que fiquei escandalizado.
Sei que as hidrelétricas do Madeira serão construídas mais cedo ou mais tarde, até porque o Brasil precisa delas. Sei também que há interesses financeiros e políticos por parte de muitos que são a favor ou contra essa construção. Sei ainda que há muita utopia por parte daqueles que defendem os interesses ecológicos. Contudo, sabemos que as coisas não são tão simples como o senhor colocou nessa frase, que aliás foi dita com palavras que nem fazem muito seu estilo.
Não sou conhecedor o suficiente das questões ecológicas, contudo, aprendi que a lógica do lar, como quer dizer essa palavra, me mostra que vivemos em um uni-verso construído sob o alicerce de uma cadeia que sempre trará prejuízos para o todo quando uma parte é quebrada, e estamos experimentando isso de forma clara com o aquecimento global.
Sei que o senhor ama o desenvolvimento e que não tem por mal defendê-lo, mas percebi que é sábio o suficiente para perceber que desenvolvimento sem preservação é suicídio coletivo. A história tem nos mostrado de forma excedente o resultado de investimentos feitos em nome do desenvolvimento e que trouxeram danos irreparáveis.
Se não tivéssemos o IBAMA (com todas as histórias de ineficiência, impossibilidades e até corrupção), certamente a amazônia se transformaria num grande pasto ou plantação de soja e a destruição viria mais cedo. Tenho a impressão de que cobrar responsabilidades por parte das construtoras é obrigação desse Instituto e deveria se de todos que formam opinião.
Me perdoe a petulância e desconsidere a pobreza dos argumentos, contudo, gostaria muito de propôr que o senhor avalie o conteúdo de sua afirmação pois sua palavra exerce uma influência muito grande em nós que somos meros expectadores desse espaço democrático do rádio que está a serviço da propagação de idéias.
Que a Bahia viva (me parece ser esse o seu Estado de origem), que Rondônia viva, que o Brasil viva... que nossos netos também vivam.