Reflexão Ideológica

22 dezembro 2006

Entrevista dada ao site da IP de Aquidauana



"A IPA é casa de infância da qual tenho saudade"


Nascido em Dourados, MS, ele está há mais de 15 anos no pastorado de uma única Igreja. Foi estudante do Centro de Educação Rural de Aquidauana (CERA) e do Seminário Presbiteriano do Sul, onde concluiu o curso teológico. Já em Rondônia, onde pastoreia a Igreja Presbiteriana Gileade, fez psicologia na Universidade Federal. Trata-se de um filho querido da IPA. O nosso entrevistado da semana é o Rev. Aluízio Vidal Flor.

IPA - Muitos evangélicos condenam a relação psicologia-pastorado. Como psicólogo o que você diz?

Rev. Aluízio - Na verdade há muito mais uma manifestação de ignorância (no sentido de desconhecimento), do que mesmo de base para discordância teórica na maioria dos casos. A ignorância se dá primeiro porque há um mau entendimento quanto à presença salvadora de Cristo como sendo responsável pela cura de todas as áreas da vida humana, o que sabemos não ser verdade. Em segundo lugar é quanto à psicologia, pois, por ser uma ciência nova, e que trabalha com algo tão subjetivo como são as emoções, além de aparentemente ser área da religião, durante muito tempo atribuiu-se a ela uma mística de poder e sobrenaturalismo além da realidade.
Dessa maneira, com um pouquinho de estudo ou mesmo de conversa a maioria consegue perceber que psicologia é mais uma ferramenta para trabalharmos o ser humano que já é salvo, mas ainda está na terra vivendo todas as agruras naturais do primeiro céu e da primeira terra.

IPA - Você acaba de participar de uma experiência de militância política, com postulação de cargo. Qual a grande lição?

Rev. Aluízio - Creio que há uma sede enorme no mundo secular por uma voz profética viva, sem postulações de sucesso pessoal, mas com absoluto interesse na promoção de valores do Reino. Não creio em projetos messiânicos que uma ou outra pessoa encarne e que irão transformar o mundo. Mas creio que o evangelho tem sim propostas que influenciam e tornam a vida humana mais justa. Por isso, não podemos ficar à margem do processo discutindo o que os outros deveriam fazer, mas sim discutirmos a vida comunitária dentro da realidade externa à igreja. Quando assumimos essa postura com responsabilidade, as pessoas ouvem com carinho, respeito e até certa ansiedade. Estou aqui e sou co-responsável pelo que aqui acontece, por isso, não ficarei alheio às decisões na cidade.

IPA - Sua experiência ministerial é muito rica, devido a participação em vários ministérios e engajamento em vários projetos inter-denominacionais. Logo, os momentos marcantes são muitos. Poderia destacar um?

Rev. Aluízio - O Congresso de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas, os encontros de casais interdenominacionais e a manifestação ecumênica pela paz dentre tantos marcaram profundamente meu coração. Amo a idéia de que somos mais do que uma igreja local na prática e não apenas em palavras. Por isso, sempre que posso participo e Deus tem me mostrado sinais de sua presença em muitas comunidades irmãs.

IPA - O significado da IPA (Igreja Presbiteriana de Aquidauana) em sua história.

Rev. Aluízio - A IPA é casa de infância da qual tenho saudade. Por ela fui encontrado como criança no pasto com placenta ainda não limpa, adotado como filho nascido fora de tempo e levado a sentar entre os príncipes dos filhos de Deus. Nela recebi cem vezes mais pais, irmãos e amigos. Nela descobri o que é ser recebido, ouvido e abraçado por Jesus, num tempo que ou a igreja faria isso ou o mundo o faria. Ela fez. Cheguei a Aquidauana em 1984 com 15 anos e saí em 1986 com 18 anos: crente, treinado para o ministério pastoral, apoiado pela igreja para o Seminário e noivo com uma pessoa muitíssimo especial da comunidade. Fui sustentando financeira, espiritual e emocionalmente durante os quatro anos de seminário e até hoje chego às lágrimas só em escrever esse testemunho.

IPA - Você participou da última reunião do Supremo Concilio da IPB. Qual a impressão sobre a IPB a partir das discussões em seu maior fórum?

Rev. Aluízio - Os Concílios discutem aspectos ainda muito distantes da vida diária das igrejas locais. Continuo achando que estamos vivendo uma crise de relevância, experimentamos uma metodologia atrasada e inadequada e não percebemos a liderança discutindo realmente o que está acontecendo. Claro que temos honrosas exceções, porém, só servem para evidenciar a regra. Além disso, estamos nos fechando mais enquanto instituição maior, o que nos torna mais protegidos dos absurdos ideológicos que movimentam o mundo evangélico, mas ao mesmo tempo nos torna voz gritada dentro de um monastério denominacional, ou seja, só fazemos efeito para nós mesmos e pensamos que isso nos torna muito importantes. Em todo caso, há aspectos positivos que devem ser ressaltados, como uma relativa paz na convivência entre os líderes maiores. Mas o bom mesmo é estar vivendo a vida diária da igreja local, com seus desafios, lutas e alegrias que ela nos proporciona.



IPA - Tanto em RO como em MS se fala muito na urgência de um projeto de revitalização e crescimento das Igrejas. Em sua opinião, por onde começar?

Rev. Aluízio - Tenho a impressão que precisamos repensar nossa maneira de ser igreja: formação pastoral mais prática, facilitação na metodologia de plantação de igrejas, pastores participando dessa plantação inclusive com propostas novas de salários para esses pastores, adequação litúrgica às realidades regionais são algumas das urgências. Além disso, penso que o assunto evangelismo saiu de nossa linguagem e o assunto discipulado nunca entrou. Se isso tiver um pouco de sentido, precisamos refazer rapidamente e reorganizarmos nossas prioridades. As vezes sinto que continuamos discutindo a prioridade do Século XVI que era a redefinição doutrinária quanto à salvação pela graça, definição litúrgica e anteposição à Igreja Romana.


IPA – Sua palavra final...

Rev. Aluízio - Quero dar os parabéns à IPA pela sua capacidade de amar, cuidar e enviar como fez com tantos de nós que hoje somos pastores, pela capacidade de reorganizar-se após as crises como tem feito agora e pelas lideranças firmes que tem construído ao longo dos anos. Que o Senhor continue abençoando todos e todas que aí vivem.