Reflexão Ideológica

07 outubro 2006

Li um texto do Rubem Alves e pensei...

Mais uma vez tive o privilégio de ler uma coletânea de textos do Rubem Alves. Minha alma sorri quando o leio. Aliás, acho que essa é a grande missão dos poetas: fazerem nossa alma sorrir, pois eles conseguem transpor às palavras aquilo que os sentimentos expressam. Quando os lemos, nossos sentimentos se vêem. E sorriem, pois se sentem entendidos.
Por exemplo, na crônica Senhoras Prefeitas, Senhores prefeitos ele diz o seguinte:
Digo, portanto, que a tarefa mais alta das prefeitas e dos prefeitos não são os dez mil atos administrativos e as inaugurações que se lhe seguem. Sua missão mais importante é seduzir os habitantes das cidades a amar os jardins, a pensar jardins. Por favor, me entendam: uso a palavra jardim como metáfora para o espaço da cidade, que deve ser uma extensão do corpo das pessoas.

A crônica toda é maravilhosa e me fez acreditar que há gente capaz de ver além daquilo que é o comum, alguém que vê o extraordinário, alguém que vê o utópico.
Contudo, em sua última crônica no citado livro, denominada de Esperança, e tratando ainda de política, ele diz:

...De fato, perdi as esperanças. Mas não por ter ficado deprimido. Perdi as esperanças no momento em que me decidi naquilo que meus os meus olhos têm estado a me dizer pela vida afora.
A perda da esperança pode ser uma manifestação de lucidez. O próprio Álvaro de Campos, sem modéstia alguma, ligava a perda da esperança à inteligência.

Continua sua reflexão, cita Guimarães Rosa e Maquiavel para defenestrar os políticos e a política, pois, segundo ele, politica é caçada e políticos são caçadores preparando armadilhas em busca pura e simplesmente do poder, e acrescenta:

Jogam-se as iscas: todos, sem exceção, são iguais no seu discursos - falam as mesmas coisas, as que são sempre faladas...

Li esse texto e pensei: meu Deus, ele também passou a ver só o que os olhos vêem. Não podem mais existir prefeitas e prefeitos com sonhos de jardins. Tudo acabou.
Aproveitando a frase do Alvaro de Campos, não me sinto inteligente o suficiente para perder a esperança. Creio na capacidade de homens que, como os poetas, expressam o que a alma justa pensa e que, diferente dos poetas, são capazes de se exporem para não apenas falarem sobre jardins, mas trabalharem na construção deles. Pessoas que saem dos escritórios, das salas de aulas, da frente dos computadores, dos auditórios de palestras e vêm para, como os profetas, dizerem o que precisa ser dito, serem criticados no que precisam ser criticados, discutirem o que precisa ser discutidos para que avanços sejam alcançados e jardins possam ser sonhados.
Continuo admirando o Rubem, assim como o Elias. Um dia o profeta precisou ser lembrado que, ainda que imaginasse estar tudo acabado, uma quantia enorme de gente, talvez desconhecida e despercebida pelos comuns, mas conhecida e percebida pelo Extraordinário, continuava sendo capaz de ser fermento levedando a massa.
O Salomão também me disse que a esperança que se adia faz adoecer o coração.

1 Comments:

  • Concordo contigo Aluisio!
    A utopia é o horizonte... e é por causa da utopia de alguns, que num dado momento da história se põem a agir, que outros vão sobrevivendo, crescendo e podem posteriormente serem fermento que leveda a massa.
    Digo de novo: A utopia é o horizonte! Precisamos sonhar com jardins e plantar flores (depois cuidar delas!)pra que eles (os jardins) não desapareçam... e sim cresçam.
    Flavia

    By Anonymous Anônimo, at 9:02 PM  

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